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O lockdown do cérebro

Igor Clemente Morais


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Os últimos números das vendas do comércio no Brasil comprovam o tamanho do estrago econômico que as políticas de restrição de deslocamento impostas pelos governos causaram sobre a sociedade. O resultado de abril (-17% sobre março) foi o pior da história.

Todos os segmentos em todos os Estados tiveram queda. Das vendas nos supermercados ao comércio de veículos e do Rio Grande do Sul ao Amazonas, ninguém nem nada escapou dessa crise. E mais ainda está por vir, uma vez que muitas medidas restritivas se intensificaram desde então e poucos conseguem perceber o custo que tudo isso irá gerar para o futuro.

A economia cobra um preço caro daqueles que tomam decisões equivocadas, o problema é que isso se materializa de forma intertemporal e desigual, dificultando, para muitos, entender as causas. De imediato sentimos a queda da renda com a deterioração do mercado de trabalho, que vai levar a problemas sociais de outra natureza, como violência e piora de indicadores de bem-estar e da saúde. Além disso, a próxima geração vai herdar uma dívida pública perto de 100% do PIB concomitante com uma estrutura tributária desatualizada e um Estado ineficiente.

Sem a reforma administrativa e tributária, o esforço para gerir esses encargos irá resultar, inevitavelmente, em menor crescimento econômico e a história contemporânea do Brasil nos mostra quem acaba pagando por isso. Não é uma questão de gerar um confronto entre economia e vidas, mas, sim, de alertar para um problema maior que estamos criando ao adotar medidas extremas sem levar em conta todas as demais variáveis envolvidas. É a famosa relação "custo x benefício".

Não sei se seria esperar muito desse tipo de visão para quem tem o "poder da caneta". Mas o fato é que, além da ausência desse elemento para fundamentar as decisões, há outros componentes muito piores que estão por trás do "lockdown" total e irrestrito. Estamos assistindo a todo tipo de restrição de liberdades (circular, empreender, viver, trabalhar, consumir), e a um show de horrores de decretos em Estados e prefeituras.

Na ânsia de mostrarem algum "serviço", os políticos estão adotando regras sem nenhum fundamento científico. Por exemplo, qual o motivo para restringir o funcionamento das atividades produtivas tomando como base o horário, o porte da empresa ou o setor? Por um acaso o contágio acontece com maior intensidade somente de noite ou em estabelecimentos que faturam mais que determinado patamar?

O que mais tem causado estragos não é a Covid-19, mas outro tipo de vírus e que acabou produzindo um lockdown no cérebro de muitas pessoas.

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